sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A que ponto chegamos II

Amélia Bündchen deixa mulheres em fúria

Governo pede suspensão de campanha publicitária em que a top ensina mulheres a tirarem a roupa para não irritar os maridões. Por Matheus Pichonelli

Não basta ficar só de calcinha e sutiã para evitar a fúria do maridão quando bater o carro, trouxer a sogra para casa ou quando estourar o limite do cartão de crédito. Gisele Bündchen, a Amélia da publicidade nacional, também terá que controlar a fúria das mulheres que se indignaram com a campanha da Hope Lingerie, protagonizada por ela, com o suposto objetivo de ensinar as colegas a encontrar formas (e a vestimentas) corretas na hora de avisar os provedores da casa sobre as desfortunas do “sexo frágil” – e, assim, evitar demonstrações de afeto de homens formados no Curso Dado Dolabella de Gentileza Masculina.

“Hope ensina”, a campanha da Hope Lingerie estrelada pela top, foi tema de um artigo publicado nesta CartaCapital que alertava sobre os perigos da exposição de estereótiposque, a muito custo, os movimentos em defesa da mulher conseguiram combater.

No ar há oito dias, a campanha resultou numa série de manifestações na internet, parte delas encaminhadas à Secretaria de Políticas para as Mulheres, e levou o governo federal a enviar um ofício ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) pedindo a suspensão da publicidade. Um outro ofício foi encaminhado para a direção da empresa como manifesto de repúdio à peça.

O argumento foi que, ao “ensinar” como a sensualidade pode deixar qualquer homem derretido, Gisele Amélia Bündchen acabou apenas estimulando as mulheres a se insinuar, com o próprio corpo, “para amenizar possíveis reações de seus companheiros”.

“A propaganda promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas”. Mais que isso, a secretaria fez questão de lembrar que o conteúdo discriminatório contra a mulher pode ser enquadrado como infração da Constituição Federal.

Em campanha publicitária, a modelo ensina a seduzir o marido após bater o carro ou estourar o limite do cartão de crédito.

Se o resultado da queda de braço será somada à lista de conquistas do movimento feminino ainda não se sabe. Fato é que, nesta quarta-feira 28, a empresa enviou uma nota à imprensa justificando o conteúdo da propaganda. Na nota, assinada pela diretora Sandra Chayo, a empresa argumentou que a “propaganda teve o objetivo claro e bem definido de mostrar, de forma bem-humorada, que a sensualidade natural da mulher brasileira, reconhecida mundialmente, pode ser uma arma eficaz no momento de dar uma má notícia”. E que, utilizando a lingerie da marca, esse “poder de convencimento” será ainda maior.

Segundo a empresa, os exemplos nunca tiveram a intenção de parecer sexistas. “Bater o carro, extrapolar nas compras ou ter que receber uma nova pessoa em sua casa por tempo indeterminado são fatos desagradáveis que podem acontecer na vida de qualquer casal, seja o agente da ação homem ou mulher”.

A campanha, argumenta a empresa, tinha como objetivo mostrar justamente que a mulher não é subserviente nem dependente financeiramente do marido. Por isso decidiu escalar para o papel uma mulher bem sucedida em sua carreira internacional – e que já havia protagonizado papel semelhante em campanha de uma empresa de tevê a cabo (grifo do autor).

As situações apresentadas na propaganda, portanto, eram só “brincadeiras, piadas do dia-a-dia, e em hipótese alguma devem ser tomadas como depreciativas da figura feminina”, justificou a Hope.

Resta saber se os argumentos vão convencer as pessoas que se indignaram com o conteúdo na internet, a Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Conar, que está notificado. Por enquanto, a Hope promete manter a campanha no ar. No site da empresa, o recado da top segue firme e forte em seu vídeo promocional: “Você é brasileira, use seu charme”. Recado dado, Amélia.

Matheus Pichonelli

Exemplo

Nove anos. E bicampeão de xadrez

Escola do campeão brasileiro do xadrez introduziu a atividade para combater excesso de medicamentos para 'déficit de atenção' dos alunos. E deu certo. Por Paula Thomaz

Em vez de caderno, tabuleiro branco e preto; no lugar de estojo com canetas e lápis, peões, cavalos, bispos, um rei e uma dama. É com esses objetos que Gianluca Jorio Almeida passa a tarde na escola em que estuda, no Rio de Janeiro. Rotina de um bicampeão brasileiro xadrez. Com apenas nove anos de idade, Gianluca ganhou mais uma vez o Campeonato Brasileiro de Xadrez Escolar na categoria dos alunos que estão no 4º ano, que aconteceu nos dias 23 a 25 de setembro em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais.

Agora, ele se prepara para o primeiro mundial a ser disputado no Brasil, em Caldas Novas, Goiás, em novembro.

Gianluca é um desses garotos que descobrem um talento e não para mais de treinar. O interesse pelo xadrez surgiu aos quatro anos de idade, quando o menino viu o pai ensinando o irmão, num momento de dedicação aos filhos depois do trabalho. Na escola, o desempenho do aluno chamou a atenção do professor Fernando Paulino Chagas, hoje seu treinador. E da brincadeira, aflorou no garoto um dom que hoje é sua grande paixão.

No quarto, poucos brinquedos. As prateleiras são ocupadas mesmo pelos mais de 20 troféus que já ganhou. “Não consigo imaginar meu filho fazendo qualquer coisa que não tenha xadrez no meio”, diz Jeanpauline Jorio Almeida, mãe de Gianluca. Na rotina, 10 horas semanais dedicadas a treinos pelo computador, na escola e com o técnico particular.

Com tanto esforço, vale a pena dar aquele apoio financeiro conhecido como “paitrocínio” e “vótrocínio também”, diz Jeanpauline. Quase todos na família ajudam a bancar as participações nos torneios do futuro “mestre internacional”, título concedido pela Federação Internacional de Xadrez a quem consegue pontuações altas – o que ele afirma ser seu objetivo. Ano passado, a mãe foi com o filho para a Grécia. Lá, Gianluca sentiu um frio na barriga muito grande e o peso de disputar um campeonato mundial. “Ele jogou com russos, turcos e africanos, não se interessava pelo inglês”. Desde então, está matriculado num curso, que é para poder entender o que diz o árbitro. Ele ficou em 67º lugar entre 150 jogadores, mas é do lado de cá que o garoto treina e se destaca. Gianluca é também bicampeão estadual e vice-campeão Panamericano.

A mais recente conquista foi o 1º Lugar na categoria 4º ano do Campeonato Brasileiro de Xadrez Escolar. Foto: Divulgação

A disciplina tem ajudado no desempenho do enxadrista mirim na escola, conta a mãe. Como ele começou cedo, ela acredita que o xadrez influenciou muito na formação de Gianluca. “A paciência, preparação, perseverança, com certeza são coisas que ele adquiriu com o xadrez, e são características que fazem parte da vida dele como um todo, inclusive na escola”.

É o que pensa a lenda russa do xadrez Gary Kasparov, que esteve no Brasil no início deste mês. Desde que se aposentou, em 2005, ele viaja o mundo para promover o xadrez entre as crianças. No Distrito Federal, ele chegou a afirmar que “o principal papel de projetos sociais que ensinam xadrez para crianças não é formar campeões. É usar o jogo como uma ferramenta para que o desempenho escolar das crianças melhore”.

No colégio Franco-Brasileiro, do Rio de Janeiro, onde o menino estuda, a inclusão do xadrez nas atividades da escola foi proposital. De acordo com Elaine Azevedo, coordenadora pedagógica, “o xadrez ajuda no raciocínio lógico, na concentração do aluno; trabalha estratégia, ajuda o aluno na percepção espacial. Contribui também com a Matemática e na interpretação.” Os alunos com déficit de atenção também são grandes beneficiados pela inclusão do xadrez nas atividades da escola. “Quando a gente viu alunos tomando medicação, com atendimento fora da escola, com dificuldade de realizar uma prova, a ponto de ter de separá-lo para realizar prova sozinho, nós começamos a pensar em estratégias para ajudar esses alunos e o xadrez foi um grande parceiro.”

Em 2009, a cidade de São Paulo também apostou no xadrez e lançou o projeto Xadrez Movimento Educativo, por meio da secretaria municipal de Educação, e já conquistou 35 mil crianças de 300 escolas públicas paulistanas.

Além dos alunos, quem ganha também com o ensino do xadrez nas escolas é o próprio xadrez, como afirma Eduardo Passos Pereira, diretor-secretário do Clube de Xadrez São Paulo. Segundo Pereira, a principal fase para a popularização desse esporte passa pela inserção dele na escola. Cria um público que precisa de torneios, que consome literatura sobre o assunto, se filia a um clube ou participa de associações que tenham xadrez entre as atividades. É toda uma cultura que vai se formando aos poucos.

Gianluca se prepara para o Mundial que vai acontecer pela primeira vez no Brasil, em Caldas Novas, Goiás. Foto: Arquivo Pessoal

Pereira confia que o futuro do xadrez no Brasil está na escola. “A maior expressão do xadrez hoje é na área escolar mesmo. E o processo de massificação do esporte no Brasil tem que, necessariamente, passar por ela.”

Esse projeto da secretaria de Educação de São Paulo ganha projeção e verba para expansão. É provável que nos próximos anos haja um crescimento da participação nos clubes, por exemplo. “É uma alternativa razoável tanto do ponto de vista das competições como para o ensino nas escolas.”


Paula Thomaz

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Aos Educadores

DOMINGO, 25 DE SETEMBRO DE 2011

CARTA ABERTA AOS EDUCADORES

No dia 15/09, imaginando uma cartada de marketing e a promoção populista em cima de uma árdua conquista nossa, em total desrespeito à nossa classe e ao SINTEPP, o Governador Simão Jatene armou uma encenação chamando os (as) professores (as) e os meios de comunicação para anunciar, o pagamento de apenas 30% da diferença (R$ 94,77) do que é pago hoje, para o que deve ser realmente pago (R$ 1.187,97). Assim, o propalado “adiantamento” do governo representa R$ 14,21 ou vergonhosos R$ 0,14 na hora/aula, para o (a) professor (a) com uma Carga Horária de 100 horas. Na verdade, o governo não adianta, ao contrário, deixa de pagar R$ 66,34, infringindo a lei e, por conseguinte, se opondo ao STF.

Depois de meses de intensa e cansativa negociação para a implantação do PCCR (Lei Estadual no. 7.442) e o pagamento do Piso Salarial (Lei Federal no. 11.738), o governo, assumiu em mesa de negociação, com o SINTEPP, que pagaria o piso mediante a publicação do acórdão, pelo Supremo Tribunal Federal, acerca do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4.167), o que ocorreu no dia 24/08, esgotando os argumentos do governo que impediam o pagamento imediato do piso.

Além disso, cobramos a imediata regulamentação do artigo 28, da referida lei, que trata dos abonos pecuniários e aulas suplementares, o que deveria ter sido feito ainda no ano anterior.

Também exigimos urgência na regulamentação da carreira dos funcionários de escola, expressa no artigo 2o, parágrafo único e artigo 45, item II, que até o presente momento o governo não se posicionou de forma satisfatória.

Por isto, chamamos, também, os funcionários de escola para fortalecer e somar-se a esta luta.

Queremos respeito às formas de participação e controle social nas/das unidades escolares. Neste sentido, resgatar o verdadeiro e histórico papel dos Conselhos Escolares está na ordem do dia, considerando o esvaziamento experimentado hoje por esse colegiado em função da priorização das questões financeiras em detrimento do debate pedagógico e da qualificação da educação pública. Ainda nesta linha, outro elemento prioritário no campo da discussão da melhoria da qualidade da educação pública, passa pela eleição direta para diretor (a), um tema caro para o SINTEPP, bandeira histórica da nossa luta, que remete ao processo de redemocratização da sociedade brasileira.

Diante dessa atitude de desrespeito, decidimos em Assembleia Geral no dia 21/09, por ampla maioria, deflagrar a greve a partir do dia 26/09, para exigir do governo o cumprimento das leis do Piso Salarial, do PCCR e condições dignas de trabalho.

www.sintepp.org.br

Retirado do blog Midias na Educação: http://midiasnaeducacaopara.blogspot.com/

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Educação - o resultado do descaso

Escolas públicas com resultado fraco

Por Amanda Cieglinski*

Responsáveis por 88% das matrículas do ensino médio do país, as escolas públicas são maioria entre as que ficaram com nota abaixo da média nacional no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2010. Entre os estabelecimentos de ensino que tiveram desempenho inferior à média nacional na prova objetiva (511,21 pontos), 96% são públicos. Esse dado descarta os colégios que tiveram participação inferior a 2% ou com menos de 10 alunos inscritos e, por esse motivo, não recebem uma nota final.

No total, 63% das escolas que participaram do Enem no ano passado ficaram com desempenho inferior à média nacional. Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, a distância entre os resultados é “intolerável” e precisa ser reduzida. Ele avalia, entretanto, que muitas vezes o baixo desempenho está relacionado não apenas às condições da escola, mas de seu entorno.

“Às vezes, as condições socioeconômicas das famílias explicam muito mais o resultado de uma escola do que o trabalho do professor e do diretor. E, muitas vezes, as escolas são sobrecarregadas com responsabilidades que não são 100% delas. É muito diferente uma escola de um bairro nobre de uma região metropolitana de classe média, cujo investimento por aluno é dez vezes o investimento por aluno da rede pública, de uma escola rural que atende a filhos de lavradores que não tiveram acesso à alfabetização”, pondera o ministro.

O Instituto Nacional de Estudos e Pequisas Educacionais (Inep) divulga nesta segunda-feira 12 as notas de todas as 23,9 mil escolas que participaram do Enem em 2010. O órgão decidiu alterar o formato de divulgação do resultado por escola, que agora levará em conta o percentual de estudantes daquela unidade de ensino que participaram do exame. A mudança pretende reduzir distorções na divulgação dos resultados no caso de escolas em que a participação dos alunos é pequena.

Considerando apenas as escolas com alto índice de participação no Enem (mais de 75% dos alunos), apenas uma pública está entre as 20 melhores do país: o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV). A média obtida pela escola mineira foi 726,42 pontos, levando em conta a média entre a prova objetiva e a redação.

Para Mozart Neves Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do Conselho de Governança do movimento Todos Pela Educação, a ausência de escolas públicas entre as melhores do Enem não é novidade e deriva da desigualdade de acesso a oportunidades educacionais no país.

“Esse quadro é um reflexo do próprio apartheid [regime de segregação racial na África do Sul], causado por uma educação que não é oferecida no mesmo patamar a todos desde a alfabetização. As avaliações mostram que essa desigualdade [da qualidade do ensino oferecido por públicas e particulares] começa lá atrás e vai se acentuando ao longo do percurso escolar. O jovem da escola particular chega ao nível de formação e aprendizado esperados quando termina o ensino médio, mas o da escola pública chega com três ou quatro anos de déficit na aprendizagem. A luta é desigual”, avalia.

Os resultados de cada escola estarão disponíveis para consulta na manhã desta segunda-feira 12 no site do Inep.

*Publicado originalmente em Agência Brasil.

Disponível em: http://www.cartacapital.com.br

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O desfile e a novidade

7 de setembro

O desfile de 07 de setembro em Terra Alta repetiu a grandiosidade dos anos anteriores. Aliás, esse dia é uma data que ainda mobiliza muita gente no Município. Creio que é o evento que mais reúne gente em Terra Alta.
A novidade ficou por conta da apresentação da turma de uma das escolas que desfilou. Foi feita uma paródia do rap da felicidade - um dos melhores funks do Brasil, diga-se de passagem - que abordava a questão do lixo na cidade. Creio que foi uma das letras mais críticas e contundentes contra o gestor municipal. A temática do desfile era o Meio Ambiente, focalizando a reutilização do lixo. Os alunos do Ensino Médio aproveitaram a oportunidade para reclamar da maneira como o lixo é tratado no município.
Ficou uma situação constrangedora para o palanque formado em frente a prefeitura municipal, afinal todas as autoridades municipais estavam presentes.
Ficamos assim com a sensação que não somos apenas nós que estamos atentos às questões de nossa querida Terra Alta. Os jovens mostraram que também se preocupam o destino do nosso município. Ficamos com a sensação que nem tudo está perdido.
E viva o 7 de setembro

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Mais essa agora!!!!!!!!!!!!

Compra de livros deve parar em 8 municípios do Pará

Após constatar indícios de fraudes no processo de aquisição de livros didáticos para a rede pública de ensino, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) a paralisação da compra das obras que seriam distribuídas a 12,4 mil alunos de 18 escolas de oito cidades do Pará.

A recomendação foi feita após ter ficado provado que o banco de dados com o registro dos livros escolhidos pelos professores e diretores de escolas para o próximo ano foi fraudado, redirecionando o processo de compra para a aquisição de obras não selecionadas pelos educadores. A investigação foi motivada por denúncias feitas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp) contra a 10ª Unidade Regional de Ensino da Secretaria Estadual de Educação.

De acordo com o MPF, a relação das obras regularmente selecionadas pelos profissionais foi inserida no sistema de registro de dados do Programa Nacional do Livro Didático em 8 de junho deste ano. Quatro dias depois, em um domingo, as informações foram alteradas por pessoa ainda não identificada. A Polícia Federal está investigando o caso.

Além da imediata suspensão do processo de compra, o procurador da República Bruno Alexandre Gutschow também recomendou que a autarquia, vinculada ao Ministério da Educação (MEC), reabra o sistema de cadastramento dos livros didáticos para fazer a inserção da lista dos livros realmente escolhidos pelos educadores de Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Porto de Moz, Senador José Porfírio, Vitória do Xingú e Uruará.

O documento com as orientações do MPF foi encaminhado por Gutschow, na segunda-feira (5), para o presidente do FNDE, José Carlos Wanderley Dias de Freitas. Após receber a recomendação, a autarquia terá dez dias para apresentar uma resposta, sob o risco de o caso ser levado à Justiça, onde, além do cancelamento do processo de compra, também poderão ser ajuizadas ações penais e de improbidade administrativa.

Devido ao feriado, a Agência Brasil não conseguiu ouvir a Secretaria de Educação do Pará.

Fonte: Agência Brasil


disponível em :http://www.orm.com.br/

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Educar para a celebração da vida e da Terra

Dada a crise generalizada que vivemos atualmente, toda e qualquer educação deve incluir o cuidado para com tudo o que existe e vive. Sem o cuidado, não garantiremos uma sustentabilidade que permita o planeta manter sua vitalidade, os ecossistemas, seu equilíbrio e a nossa civilização, seu futuro. Somos educados para o pensamento crítico e criativo, visando a uma profissão e um bom nível de vida, mas nos olvidamos de educar para a responsabilidade e o cuidado para com o futuro comum da Terra e da Humanidade. Uma educação que não incluir o cuidado se mostra alienada e até irresponsável. Os analistas mais sérios da pegada ecológica da Terra nos advertem que se não cuidarmos, podemos conhecer catástrofes piores do que aquelas vividas em 2011 no Brasil e no Japão. Para se garantir, a Terra poderá, talvez, ter de reduzir sua biosfera, eliminando espécies e milhões de seres humanos.

Entre tantas excelências, próprias do conceito do cuidado, quero enfatizar duas que interessam à nova educação: a integração do globo terrestre em nosso imaginário cotidiano e o encantamento pelo mistério da existência. Quando contemplamos o planeta Terra a partir do espaço exterior, surge em nós um sentimento de reverência diante de nossa única Casa Comum. Somos inseparáveis da Terra, formamos um todo com ela. Sentimos que devemos amá-la e cuidá-la para que nos possa oferecer tudo o que precisamos para continuar a viver.

A segunda excelência do cuidado como atitude ética e forma de amor é o encantamento que irrompe em nós pela emergência mais espetacular e bela que jamais existiu no mundo que é o milagre, melhor, o mistério da existência de cada pessoa humana individual. Os sistemas, as instituições, as ciências, as técnicas e as escolas não possuem o que cada pessoa humana possui: consciência, amorosidade, cuidado, criatividade, solidariedade, compaixão e sentimento de pertença a um Todo maior que nos sustenta e anima, realidades que constituem o nosso Profundo.

Seguramente, não somos o centro do universo. Mas somos aqueles seres, portadores de consciência e de inteligência, pelos quais o próprio Universo se pensa, se conscientiza e se vê a si mesmo em sua esplêndida complexidade e beleza. Somos o universo e a Terra que chegaram a sentir, a pensar, a amar e a venerar. Essa é nossa dignidade que deve ser interiorizada e que deve imbuir cada pessoa da nova era planetária.

Devemos nos sentir orgulhosos de poder desempenhar essa missão para a Terra e para todo o universo. Somente cumprimos com essa missão se cuidarmos de nós mesmos, dos outros e de cada ser que aqui habita.

Talvez poucos expressaram melhor estes nobres sentimentos do que o exímio músico e também poeta Pablo Casals. Num discurso na ONU nos idos dos anos 80, dirigia-se à Assembléia Geral pensando nas crianças como o futuro da nova humanidade. Essa mensagem vale também para todos nós, os adultos. Dizia ele:

A criança precisa saber que ela própria é um milagre, saber, que desde o início do mundo, jamais houve uma criança igual a ela e que, em todo o futuro, jamais aparecerá outra criança como ela. Cada criança é algo único, do início ao final dos tempos. E assim a criança assume uma responsabilidade ao confessar: é verdade, sou um milagre. Sou um milagre do mesmo modo que uma árvore é um milagre. E sendo um milagre, poderia eu fazer o mal? Não. Pois sou um milagre. Posso dizer Deus ou a Natureza, ou Deus-Natureza. Pouco importa. O que importa é que eu sou um milagre feito por Deus e feito pela Natureza. Poderia eu matar alguém? Não. Não posso. Ou então, um outro ser humano que também é um milagre como eu, poderia ele me matar? Acredito que o que estou dizendo às crianças, pode ajudar a fazer surgir um outro modo de pensar o mundo e a vida. O mundo de hoje é mau; sim, é um mundo mau. E o mundo é mau porque não falamos assim às crianças do jeito que estou falando agora e do jeito que elas precisam que lhes falemos. Então o mundo não terá mais razões para ser mau.

Aqui se revela grande realismo: cada realidade, especialmente, a humana é única e preciosa, mas, ao mesmo tempo, vivemos num mundo conflitivo, contraditório e com aspectos terrificantes. Mesmo assim, há que se confiar na força da semente. Ela é cheia de vida. Cada criança que nasce é uma semente de um mundo que pode ser melhor. Por isso, vale ter esperança. Um paciente de um hospital psiquiátrico que visitei escreveu, em pirografia, numa tabuleta que me deu de presente: “Sempre que nasce uma criança é sinal de que Deus ainda acredita no ser humano”. Nada mais é necessário dizer, pois nestas palavras se encerra todo o sentido de nossa esperança face aos males e às tragédias deste mundo.

Leonardo Boff é autor de “Cuidar da Terra-proteger a vida”, Record, Rio de Janeiro 2010.

Fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/